Tudo sobre o Amor | Quarta Carta
.bell hooks sob o olhar de Carol Sandler e Mariana Wechsler
Esta é a quarta e última carta de uma série de correspondências sobre o que é o Amor entre eu e a Carol Ruhman Sandler, da newsletter Vou te falar. Nós trocamos ideias sobre nossas experiências e percepções sobre o livro Tudo sobre o amor, de bell hooks (Editora Elefante).
A Carol escreveu a primeira e a terceira carta no Vou te falar; e eu escrevi a segunda e agora escrevo esta que é a última e a quarta carta aqui em Correnteza. E com muito amor, encerramos a nossa troca de experiências e o ano.
Agradecemos com todo o carinho pelo seu tempo dedicado na leitura destas correspondências!
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Oi Carol,
Eu espero que você tenha passado um Natal maravilhoso ao lado de quem você ama, e que você e sua família estejam bem.
Semana passada quando eu li a sua carta, lembrei-me de um povo na Africa que considera a data de nascimento dos filhos, o dia em que os pais decidem ter a criança. Não é decidir ter filhos como uma ideia genérica, é aquele momento em que um ou os dois pais decidem profundamente ter aquele filho ou aquela filha.
Acho que sua Isadora nasceu mais de 3 anos antes, quando vocês decidiram tê-la. Com certeza o mesmo ocorreu quando a Bia veio. E essa ideia ou desejo de conceber uma vida que nasceu anos antes delas virem ao mundo é algo muito difícil de explicar, só quem já vivenciou esse desejo está mais próximo de entender isso.
Quem não leu ainda:
Fiquei imaginando também a conversa entre vocês sobre a improbabilidade da vida, e como nós temos tanta sorte de hoje estarmos aqui, vivas. Imaginei os olhos curiosos da Bia tentando entender os números e toda essa conversa. Somos 1 em 400 trilhões de chances de estar aqui nesse momento, e isso é incrível. Mais sorte ainda, se nascemos numa família bem estabilizada mentalmente e financeiramente, e mais ainda, se nessa família o amor é o sentimento que norteia tudo.
Temos que ter gratidão por essa sorte da vida e consciência dos nossos privilégios.
Ao ler esse trecho da bell hooks em Tudo sobre o Amor me veio imediatamente à mente, uma imagem de um muro. Em que de um lado está quem realmente somos e por muitas vezes escondemos do mundo; e do outro lado, umas dezenas de versões de nós que mostramos ao mundo.
Tem um muro em Paris, feito pelo artísta François Baron que ilustra bem essa imagem: o muro do Eu te Amo, ou também chamado de o muro do Amor.
O amor se apresenta no mundo de formas tão diferentes, não apenas na linguagem, na forma de se expressar, mas no todo, em como pensamos, como falamos e como agimos. Amor é essa composição que não se explica por si só.
O amor é essa busca infinita por nos reconhecer como humanos e entregarmos ao próximo o melhor que podemos dar. Amor é uma escolha diária de autoconhecimento e altruísmo.
No momento em que escolhemos amar, começamos a nos mover contra a dominação, contra a opressão. No momento em que escolhemos amar, começamos a nos mover em direção à liberdade, a agir de formas que libertam a nós e aos outros. Por bell hooks
Você disse uma frase que me chamou muita atenção: “Ser amada é maravilhoso - mas sentir o amor dentro de mim, vazando de cada poro, é divino.”
Tem tanto conhecimento expresso nessa frase, que se formos trazer a lógica matemática ou a filosofia, teremos conclusões semelhantes ou idênticas. Permitir-se amar e ser amada é uma escolha um tanto difícil, porque parte do anti-ego.
O ser humano tem uma tendência egocêntrica natural e que é potencializada pela cultura (familiar, regional, nacional, de classe social etc). Em geral, a maioria das pessoas sempre acha que faz mais que o outro.
Num outro livro, Sucesso e Sorte do Robert H. Frank, o autor descreve uma série de estudos comportamentais que vão ao encontro dessa nossa conversa. Em alguns estudos, perguntaram a casais qual o percentual que cada um achava que contribuia para a manutenção da casa e sempre a soma era superior à 100%, na média dava 140%.
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