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**foto da capa deste artigo: de Components AI na Unsplash
O café esfria na xícara enquanto eles, de braços cruzados e testa franzida, decretam: não vai ser assim! E não é, a mãe que um dia achou que escolheria a cor do prato, o horário do banho, o tipo de roupa, descobre que dentro daquele corpinho miúdo mora um diretor de cinema que edita cada cena da convivência, é um “eu quero”, “não quero”, “agora”, “não agora” que tira qualquer roteiro do lugar.
Outro dia, uma mãe me contou que o filho, de cinco anos, exige que todos os copos fiquem alinhados na mesa do almoço. Se alguém move um centímetro, ele “surta“. Outro pai me escreveu que a filha não deixa a amiga brincar com os blocos amarelos porque “são dela”. Um casal questionou: é normal? é birra? é falta de limite?
A ciência não chama de “mandão”, chama de comportamento controlador mas, para quem vive isso, não faz muita diferença o nome técnico o que aperta é ver a casa virar um tabuleiro, onde o menor de todos parece ser o rei.
É aí que a gente esquece de perguntar: o que será que esse rei está tentando proteger?
Na neurologia e na psicologia, há pistas claras. A neurologia explica que a criança cria defesas para não se perder, a psicologia lembra que o comportamento é sempre um mensageiro e que, muitas vezes, a necessidade de controlar fora é uma tentativa de acalmar o caos que mora dentro. Crianças ansiosas, inseguras, confusas com o mundo que muda rápido, procuram terreno firme onde der. Às vezes é o tapete do quarto, o Lego da cor certa, o jeito de todo mundo brincar só como ela quer, por trás do “manda em tudo” mora o medo de não ter nada sob controle.
Se eu pudesse sussurrar algo no ouvido de quem se desespera com isso, seria: Respira, não é pessoal, não é desobediência pura, é tentativa de existir com um mínimo de segurança.
Claro que isso não quer dizer que a gente deva virar súdito de criança nenhuma mas, antes de apertar o botão do sermão ou do grito, dá pra parar e observar, o que está acontecendo aqui? Qual é o medo? O que eu posso devolver de chão pra esse pequeno comandante?
Em muitas famílias, a rigidez aparece quando os limites somem de repente. Uma casa sem estrutura é uma casa onde alguém vai tentar ser a estrutura e quase sempre é a criança, se eu não sei o que vai ter de almoço, se não sei quem manda em quem, se não entendo o que posso esperar de cada adulto então eu viro o adulto, uma inversão que pesa demais em ombros que ainda deveriam carregar só a mochila da escola.
Outras vezes, o “mandão” nasce de uma ansiedade que o adulto não vê. Um pai ausente, uma mãe distraída por dentro, uma mudança na rotina, a ameaça de perder um amigo. Tudo isso se transforma em urgência de mandar no que for possível, é um jeito de sentir que ainda se tem algum poder.
Então, mais que corrigir, é preciso compreender e devolver controle, mas do jeito certo, um controle compartilhado, que ensina autonomia sem soltar a rédea de vez. Ofereça escolhas verdadeiras, permita decisões pequenas, organize junto.
Na convivência com amigos, nem sempre é fácil. Criança que manda em tudo cansa as outra e, se ninguém diz nada, acaba sozinha no parquinho. Aí, de novo, vem o choro: ninguém quer brincar comigo, é aí que o adulto entra, não pra dar sermão no meio da briga, mas pra abrir conversa depois, quando as coisas acalmam.
Você ficou bravo porque queria que todo mundo jogasse só do seu jeito?
O que você acha que dá pra tentar diferente?
Será que dá pra combinar um jeito de cada um escolher uma brincadeira?
É trabalho de formiguinha, é ensinar o idioma do ceder, do cooperar, do criar junto. Algumas crianças, por temperamento, têm mais dificuldade, são intensas, organizam o mundo em linhas retas, gostam de saber exatamente o que vai acontecer, para elas, improvisar é um terror. O cérebro delas precisa aprender, devagar, que flexibilidade não é caos, que abrir mão de uma parte não destrói o todo.
Também vale olhar pro espelho às vezes, quem manda em tudo somos nós adultos que precisam ter razão sempre, que querem que o filho sorria na hora de sorrir, chore na hora de chorar, que exigem obediência sem escuta, o pequeno tirano pode estar só copiando.
Quando eu era criança, adorava brincar de professora, meus alunos imaginários tinham que me obedecer em tudo. Eu desenhava tarefas, distribuía provas e notas, um pequeno feudo num quarto de bonecas. Hoje percebo que era meu jeito de sentir que eu tinha voz num mundo que me emudecia, mandar era meu abrigo.
Talvez seja isso, ser mandão é só outra forma de pedir colo, um colo firme, que devolve segurança. Não é abaixar a cabeça pra tudo, nem endurecer a ponto de quebrar o elo. É mostrar, todos os dias, que quem cuida da vida real ainda somos nós, mas que sempre cabe a voz deles na mesa do café.
Talvez seja por isso que a gente continua repetindo, entre suspiros: quem é que manda aqui?
No fundo, a resposta é simples: ninguém manda sozinho. A vida em família é um governo de coalizão onde cada um, mesmo o menor, tem uma pasta importante, onde ninguém reina isolado, onde aprender a dividir o poder é também aprender a confiar no outro.
Que a gente tenha coragem de soltar, firmeza pra segurar e humildade pra ouvir mesmo quando quem fala não alcança nem a prateleira de cima.
Com carinho,
Mariana Wechsler
Correnteza, porque toda criança carrega um rio dentro de si e todo adulto precisa aprender a nadar.
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Tameka Montgomery é uma empreendedora e líder social que se dedica a ajudar os jovens a alcançar seu potencial máximo. Ela é a fundadora da Raising Entrepreneurs, uma organização sem fins lucrativos que oferece treinamento e mentoria para jovens empreendedores.
Montgomery nasceu e cresceu em Chicago, Illinois. Ela começou sua carreira como professora de inglês, mas logo se interessou pelo empreendedorismo.
Em 2013, o Presidente Obama nomeou Tameka para liderar o Gabinete de Desenvolvimento Empresarial da Administração de Pequenas Empresas dos EUA. Ela acredita que o empreendedorismo é uma ferramenta poderosa para a mudança social e econômica.
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Adorei "a vida em família é um governo de coalizão onde cada um, mesmo o menor, tem uma pasta importante, onde ninguém reina isolado, onde aprender a dividir o poder é também aprender a confiar no outro". ´É a regra por aqui também.
Imagina se os nossos governos entendessem a importância disso também? =)