Maternidade: uma missão invisível
As palavras podem servir como verdadeiras armas, prontas para machucar as pessoas. Minha avó me dizia isso toda vez que alguma confusão começava. Sempre me orientando a respirar e pensar nas palavras que eu fosse usar, para não machucar o outro e não me ferir em arrependimentos.
Uma mãe que, há um ano, perdeu sua filha de nove anos me contou sua história com os olhos marejados, a voz entrecortada pela saudade. Disse-me que, se pudesse ter apenas um dia a mais com a pequena, não pediria grandes gestos ou aventuras. Não.
Ela só queria sentar no sofá e ouvir. Ouvir sua filha contar sobre o dia, sobre o que a fazia sorrir, o que a fazia sonhar. Queria gravar cada palavra, cada risada, cada pausa em seu coração. Um desejo tão simples, mas que carregava todo o peso da ausência.
Refleti sobre isso por horas depois daquela conversa. Quantas vezes nos pegamos perdendo a oportunidade de ouvir aqueles que amamos? Estamos tão ocupadas, tão sobrecarregadas pelas demandas diárias, que esquecemos que a vida, assim como as palavras, escapam por entre os dedos, no meio de respiros ofegantes.
Quantas vezes, ao ver as crianças correndo pela casa, e você com sacolas nas mãos, terra caindo pelo chão, nossa primeira reação é de irritação? Queremos que o caos cesse imediatamente.
Mas e se, em vez disso, respirássemos fundo? E se, ao invés de reagir com impaciência, escolhessemos a felicidade? Porque, se olharmos com outros olhos, talvez o que enxerguemos seja uma memória em construção. Talvez, ao invés da sujeira, vejamos a alegria. Ao invés da bagunça, vejamos a criatividade florescendo.
Sim, a vida cansa. Estamos exaustas e temos motivos para isso. Mas, será que quase nunca temos tempo para simplesmente estar presentes? Para nos sentarmos ao lado de nossos filhos e realmente ouvir o que eles têm a dizer? As histórias sobre o dia na escola, os sonhos que os encantam, os medos que os assombram.
Será que estamos perdendo momentos de conexão por estarmos sempre com pressa?
As palavras, afinal, têm um poder imenso. Uma pesquisa recente revelou algo alarmante: duas em cada cinco crianças sofrem abuso verbal regularmente. E isso não é só sobre gritos ou insultos diretos. Muitas vezes, é o tom, a impaciência, a falta de escuta que fere.
Crianças que ouvem palavras ásperas se sentem tristes, ansiosas, inseguras. E, aos poucos, essas palavras vão moldando quem elas acreditam ser.
Mas há caminhos para encontrar paz em meio ao caos da parentalidade. Filosofias como o Estóicismo e o Budismo do Sutra de Lótus nos ensinam a aceitar aquilo que não podemos controlar.
O temperamento de nossos filhos, os imprevistos da vida – não podemos mudar essas coisas, mas podemos mudar a maneira como reagimos a elas. Podemos encontrar paciência, podemos escolher responder com compaixão, podemos aprender a estar presentes, mesmo quando o cansaço pesa sobre nós.
A parentalidade, como essas filosofias sugerem, é uma jornada de virtude e amor. E, quando aceitamos que o controle nem sempre está em nossas mãos, começamos a nos libertar da frustração.
Ao invés de tentar moldar o mundo à nossa volta, aprendemos a abraçar o que ele nos oferece – as alegrias simples, as histórias contadas sem pressa, os momentos de caos que, no fundo, são momentos de vida.
Se há algo que aquela mãe me ensinou, é que o tempo é uma dádiva preciosa. E a melhor forma de honrá-lo é estar presente. Ouvir. Amar. Porque, no fim, o que realmente fica são os momentos em que escolhemos escutar com o coração aberto.
🌹 Um Livro 🌹
Pema Chödrön, em Acolher o indesejável: Uma vida plena num mundo abatido, argumenta que a dor e o sofrimento são partes inevitáveis da vida, mas que estas experiências também podem ser oportunidades de crescimento e transformação.
Ela se baseia na antiga sabedoria e práticas budistas para oferecer um caminho através dos momentos mais desafiadores da vida, escrevendo que quando as coisas parecem insuportavelmente difíceis, podemos navegá-las permanecendo no momento presente, cultivando a compaixão por nós mesmos e pelos outros, enfrentando nossos medos e aceitando realidade como ela é.
🌹 Uma Conversa 🌹
Ao impor altas expectativas e controlar cada detalhe da vida dos filhos, os pais podem acabar não ajudando tanto quanto imaginam. Pelo menos, é assim que Julie Lythcott-Haims enxerga a situação.
Com entusiasmo e um toque de humor irônico, a ex-reitora de calouros da Universidade de Stanford argumenta que os pais deveriam parar de medir o sucesso dos filhos apenas por notas e resultados de provas. Em vez disso, ela defende que é melhor oferecer algo muito mais antigo e fundamental: amor incondicional.
🌹 Lembrei desse aqui 🌹
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Publico mensalmente uma coluna muito especial em Vida Simples e tenho muitos artigos também publicados no caderno da Mariana Kotscho e Papo de Mãe no UOL, desenvolvi um podcast independente para centenas de ouvintes e construí essa newsletter no Substack, pela qual tenho prosperado nesses últimos dois anos graças a vocês leitoras.
Sou uma escritora, ainda sem livros publicado, e esta comunidade se tornou meu lugar favorito para sair e compartilhar minhas experiências e conhecimento. Sou apaixonada por escrever e ser remunerada por isso.
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