Quando foi que a profundidade virou exceção?
Talvez o que esteja faltando seja gente que escuta com o peito.
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**foto da capa deste artigo: de Jeremy Bishop na Unsplash
Quantas conversas cabem num prato? Lembrei da minha avó dizendo que a cozinha era o cômodo mais importante da casa, porque nela ninguém precisava disfarçar silêncio com assunto. Na cozinha, as palavras vinham na hora certa, misturadas ao cheiro do café, ao barulho da faca batendo na tábua. Ali ninguém tinha pressa de resposta era mais importante ter alguém que quisesse ouvir.
A gente foi ficando hábil em digitar “rsrs” enquanto o peito grita. Em apertar “curtir” em fotos que a gente não olhou de verdade, em responder com figurinha o que, na verdade, pedia abraço. Se Winnicott visse isso, talvez dissesse que estamos vivendo numa ilusão de presença: o falso self, que sorri, reage, compartilha mas não se mostra, e o verdadeiro? Se esconde num suspiro no meio da noite.
Eu penso nos nossos filhos, nos olhares que eles lançam quando contam a piada pela quarta vez. É o riso que querem? Ou querem saber se ainda estamos ali? Se estamos de verdade, inteiros e não com o corpo na sala e a cabeça apertando notificações.
Gabor Maté fala do vínculo como raiz de tudo, sem vínculo, a dor vira sintoma, a solidão engole o peito e se instala em alergias, em gastrites, em noites que não terminam e vínculo não é presença física apenas, é a escuta. É perguntar de novo, mesmo quando a resposta é curta, é ter paciência de esperar a pausa, o tempo que o outro precisa para organizar o que sente.
Outro dia minha filha me perguntou se eu tinha medo do silêncio, disse que não, mas talvez eu tenha. Porque no silêncio, mora o que ficou sem ser dito, mora a saudade de quem não liga mais, mora a voz embargada que a gente engole pra não incomodar, mora o susto de perceber que faz tempo que ninguém pergunta como a gente está e faz tempo que a gente também não pergunta de verdade.
Quando penso em maternidade, penso nesse solo de perguntas, perguntas que não precisam de resposta pronta. “Tá tudo bem?” pode abrir portas que nem a gente sabia trancadas. “Você quer que eu fique aqui do seu lado enquanto você chora?” pode ser o começo de uma cura.
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